26 de outubro de 2009

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♪♫Chaminé Batom - Mente Mente♪♫

Foto: Cadeira no meu quarto


Não leia, não escreva, não sinta, não viva...

Se o sinal fechou, é porque chegou a hora de parar...

Todo flash reluzente é sinal de anomalia.

Então pare.

Ou siga.

A escolha é sempre sua, a vida é sempre sua, a vontade é sempre sua, o risco é sempre seu...


"A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto."
(Augusto dos Anjos)

30 de setembro de 2009

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♪♫Chico Buarque - A Ostra E O Vento♪♫

Foto: Prado, Bahia


         Ontem senti que perdia uma parte sua que por vezes tive vontade de perder, mas aquele sentimento me foi completamente desesperador: ver que não conseguia me lembrar de certa voz ao pé do ouvido e de tal gargalhada que alegrou muito dos meus dias; ver que não conseguia me lembrar do cheiro que sempre me fazia arrepiar e liberar os instintos animalescos; ver que a cor dos olhos, do rosto e do corpo desapareciam; ver que aquilo sem nome poderia se perder, e junto com essa perda, parte da minha história partiria numa viajem sem fim, foi de verdade desesperador. O desejo profundo e falso estava se realizando como em conto de bruxas sem fadas.

         Vi-me perdendo as tais asas impermeáveis, aquelas que suportam o sal do mar e o calor do sol. Vi que brigas com gênios literários ou musicais não faziam sentido, mas que ainda precisava saber todas as coisas que meu corpo abriga em qualquer noites quentes ou frias de qualquer estação do ano. Não por vaidade, nem por controle, na verdade nem sei pra que, mas preciso saber sobre esses abrigos, hoje eu precisei saber. Talvez tivesse a esperança de ainda ter as coisas perdidas escondidas em algum lugar... Talvez...

         Errado quem diz sobre decepções ensinar a viver. Decepção endurece e mascara um falso amadurecimento e em meio a esse endurecer, quis por vezes sem fim tirar aquele sentimento de tudo que fazia parte da minha vida, só então, quando tal desejo parecia se concretizar, pude perceber que aquele sentimento era vivo, era cheio, era Eu. Sim, era Eu. Tudo que me constituiu por anos afio estava ali, tinha nascido ou crescido nesse solo, desse adubo e não poderia ser perdido assim, como quem bate a poeira do tapete.

         Senti vontade de cantar uma música brilhante, cantar alto e quase gritando. Não tinha música na cabeça, não uma música com letra. Vazio, estava tudo muito vazio e estranho. Hoje não é um bom dia, mas amanhã será boa noite...



"Por você, eu faria isso mil vezes"
(O Caçador de Pipas - Personagem: Amir)

31 de agosto de 2009

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♪♫Chicas - Felicidade♪♫

Foto: algum lugar do Rio de Janeiro




         E entre os atropelos do dia-a-dia a gente se depara com objetos luminosos que explicam quase que instantaneamente qual e tal motivo do viver ser bom.
         Uma leveza estampada no sorriso. Um olhar maliciosamente cheio de paz. Um movimento brusco cheio de segurança de quem sabe a que veio. Nada de parecer diferente, melhor ou mais bonita. Só vaporoso por trazer uma espontaneidade rara de quem não quer impressionar ninguém. Bom ver que coisas velhas mesmo mudando ainda conservam o motivo inicial de ser lembrado.

Pira, querida e agora gira.

Dentro das rodas o processo é sempre o mesmo.

Gira, pira e fica tonto.

Recobra a lucidez e o pequeno equilíbrio

Agora fica tonto, pira e gira.

Tudo de novo.

Tudo de velho.

Não se preocupe com a ordem, pois tudo se mistura com o tempo.

Olha, congela e conserva.

Tenha a certeza que precisa e debulha outra vez.

Conserva, congela e olhe mais uma ocasião.

Vai passar e nem vai se lembrar.

Vais passar e nem vão se lembrar.

Quebra, disfarça e corre.

Agora volte a mesmo lugar e sinta-se péssima.

Corre, disfarça e quebra o clima ruim no ar...

Aquela saudade vai voltar a pulsar, mas às vezes é bom pra lembrar que se está vivo.

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         Tenho me dedicado a uma história que vem tomando meu tempo físico e mental, então acabei por me afastar um pouco daqui... Logo estarei mais ativa e se tudo der certo apresento-lhes a tal história.

6 de agosto de 2009

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♪♫Teresa Cristina e Grupo Semente - Tudo Se Transformou♪♫

Foto: Praia do Tororão, Prado - Bahia



Aquelas palavrinhas cheias de expressão

                           Que o vento carrega aos montes por entre

Amontoados de ruas, gentes, árvores e construções...

                                    Elas nem adquirem força

                           Nem fraquejam com o tempo.

                                    Vão apenas seguindo
                  Assim meio sem direção

         E propagando coisas estranhas...

                                             Às vezes maliciosas

                  Sem qualquer interesse de fazer efeito

                                             Aquele mero existir,

                                                      Somente por existir.

                                             Brinca por vezes pra se divertir,

                           Usa formas revolta de se movimentar.

                                    Foi jogada com qualquer intuito

                  E perde o movimento linear quando passar

                                                      Por entre cabeça.

                           Pode tudo.

                                             Passa por tudo.

                                                      Não movimenta nada

                           E não serve de consolo.

                  Sabe nem ser inesquecível!



"Na superfície azul do mar imenso,
Rente... rente da espuma já desmaia
Medindo a curva do horizonte extenso...
Mas um disco se avista ao longe... A praia
Rasga nitente o nevoeiro denso!...
Ó pouso! ó monte! ó ramo de oliveira!
Ninho amigo da pomba forasteira!... "
(Castro Alves)



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Também por aqui... e por aqui...

21 de julho de 2009

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♪♫Casaca - Ilha♪♫

Foto: Poço Azul por Alex Ochoa

Descendo por aquele desfiladeiro ao longe se via paisagens inertes e outras em movimentos. O azul cristalinado das águas quase nunca tocadas; o verde de folhas, sopradas por vento brando e vezes violento; alguns poucos bichos em movimento sintonizados que por horas passam e por horas sumiam.

Todo aquele mistifório que fazem os mortais acreditarem em um Deus ou força maior. Tudo ali. Colado na retina que ainda não crê no lhe aparece frente aos olhos. Em meio ao choque e a incredibilidade, percebe tardiamente a aproximação de um ser semelhante, diferente da paisagem, mas ainda assim tão hipnotizante o quanto todas as visões dos últimos segundos.

Sentia aquele calafrio e pusera a pensar: “que idiota, sempre faz isso. Agora vai começar a suar e não vai conseguir estabelecer qualquer diálogo que não seja óbvio.” Vem se aproximando, chegando perto. Já é possível sentir lhe o cheiro, ouvir a respiração, sentir lhe o coração acelerar e sem explicação percebe tudo silenciar.

Por onde foi? Por que não completou tal trajeto? Onde encontrar? Perguntas surgidas em grande agonia, e as vozes interiores voltam falar: “que idiota, sempre faz isso. Porque não foi falar? Viu ai? Assustou nobre criatura. Abestalhado, abestalhado e abestalhado.” Segura à cara de pânico e tenta achar nova concentração perante a primeira paisagem avistada, mas não consegue. Sentiu-se fraco. Triste. Solitário. Quer dividir a sensação com tal pessoa desconhecia que acabara de expulsar. Sonhador. Sempre fora sonhador sem qualquer coragem de concretizar.

Sobe pelo desfiladeiro. A paisagem perdeu toda a graça e graça precisa de um novo começo concretizado.

"E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."
(Fernando Pessoa)


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Fazendo Piadas pela Sociabilidade Seletiva
Entre, divirtam-se e comentem... Por que pra ser retardado é preciso talento ;)

9 de julho de 2009

Desculpem-me o sumiço! Processos de provas finais da faculdade, uns dias para o descanso, preguiça acumulada e o blog fica sem atualizações...

Aí está à nova postagem e um pequeno merchandising para a cantora baiana Andréa Martins, da qual tenho ouvido bastante nos últimos dias...

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♪♫Andréa Martins - Tanto Mar♪♫

Foto: Bruno di Celio


Descrição de Um Sonho.

Sou parte de uma coisa que não sei dar nome:
É parte arco-íris e lado oposto vazio; é parte flutuante e acima maré; é parte cheiro e abaixo frio; é parte pecável e mistura de santidade; é parte delirante; é um todo delirante.

Emana de uma velocidade rumorosa, mas com freios robustos que simplesmente cessa com a velocidade fazendo com que tarde a voltar agitar.
Envolve-se em uma nebulosa de arco-íris vazios com certa tendência a flutuar em grandes marés de cheiros gélidos, e frios pelos pecados cometidos por santos que em delírios se exauriram de funções maquiavelicamente impostas; recobra o movimento que de lentamente passa a decolar e rumorejar.

Sou parte de uma coisa sem nome, sem sentido, sem face ou forma. Sou meramente parte das coisas que foram jogadas ao vento; nem caos, nem jardim, nem uma coisa que mereça preocupação... Todas as partes se integram nessa passagem enferma e desaparecem ao cair do dia quando o sol paira sobre um meio céu ressequido e levemente avermelhado...

Construção... Chulamente construção

"C’est avec les beaux sentiments
que l’on faít la mauvaise litterature." (Gide)

19 de junho de 2009

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♪♫Cachorro Grande - O Certo E O Errado♪♫




O vento que clareia as pernas da linda morena

É a mesma luz que ventia seus cabelos opacos e sem brilho.

Um leve desfilar (de dedos)

Um bravo sussurrar (de medos)

Um insólito esquentar (de pelos).

Para além da cordilheira de todos os sonhos

É erguida a taça espirituosa da cobiça agora incontrolável.

Uma mão (que desliga)

Um Sorriso (que idealiza)

Um grito e um gemido (de quem não sofre).

Trava os dentes e produz cheiros... Sons... E outros conteúdos forasteiros.

Cá se foi o corredor sem volta...

Produziu? Agora é maré de introduzir

Despir sem deduzir e prevenir...

Porque se eu encarasse a sintonia de tudo que fui

E misturasse com os tons maiores de tudo que pretendo ser,

Chegaria de certo ao meu ápice,

Onde desfrutaria a louca infantaria da mais bela realidade inventada de Clarice

Ou dos loucos deuses que vagam pelos pensamentos sãos

De um povo insanamente sem esperanças.

A respiração que hora sai lenta e hora parece não saber.

O coração que hora para e hora parece correr...

Ter de cortar a carne...

Ter de ver o sangue...

Ter de sentir a dor...

Isso faz de mim apenas mero mortal.

Quiçá não precise mais de pequenas mortes diárias para me sentir-me viva.


"Eu o confessarei, que nos vossos os meus olhos observavam
Encantos que em todos os outros não encontravam." (Diderot)

13 de junho de 2009

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♪♫Paulinho Moska - Vênus♪♫




Dos enfoques super glamorosos que giram em torno da bola um tanto quanto oval:

Abre a porta!

Depara-se

Com a tela em branco... Em preto e cores destoantes.

Ignora

Tal presença significante

E observa

O insignificante

Sempre presente nessa abertura de porta

Ou de qualquer outra.

Pés

Sem dedos

Sem mãos

Sem forças

Sem forcas

Caminha despretensiosamente.

Existência insipiente

Grande

Longa

Curta ou tudo ao mesmo tempo.

Passeia

Areia

Seria

Morteia

E se acaba.

Simples como o giro descontrolado da bola que vem ficando quadrada e sem enquadre...


"Passo-lhe um certificado de sociabilidade!
Agora, nem mais uma palavra. Vou sentar-me e ficar em silêncio." (Dostoievski)

6 de junho de 2009




Poeta, poeta...

Fantasie-se de palhaço.

Leve o riso e esconda o choro.

Torne-se o que acredita.

Acredita no riso do outro.

Aprenda a fazer rir.

Ria com quem aprendeu.

Não aspire imortalidade

E não viva sem dualidades.

Todo palhaço é santo

E todo santo tem seu dia de palhaço.

Todo poeta é louca

E toda loucura tem sua poesia.

Viva de fantasia

E viva no mundo real.

Realidade não mata

Mas é fantasia que oferece prazer.

Viver é zombaria

Mas fantasia é sempre de morrer.

Poeta palhaço louco...

Divida o seu dia:

Nem borboleta nem minhoca.

Apenas flutuante, meio desviante

E com certo talento pra andar sob a terra.



"O coração tem que se apresentar diante do Nada sozinho e sozinho bater em silêncio de uma taquicardia nas trevas." (Clarice Lispector)

3 de junho de 2009


____Senhoras, senhores e transgêneros, deixando um pouco as lágrimas e partindo para os sorrisos, tenho hoje um convite:
____Humor negro, branco ou multicolor, com pitadas de sarcasmo, ironia, sadismo e até mesmo cultura. Alguns desocupados (incluindo eu) resolveram se juntar separadamente e falar besteiras em um blog. o "Sociabilidade Seletiva". Visitem, comentem... e talvez apeguem-se.




____Aproveitando a deixa animadinha da postagem de hoje, vou responder ao Meme indicado pela Srta. L.
____1 – Escolha uma foto ou vídeo de um filme que você gosta;
____2 – Coloque o trecho de uma música que tem a ver com aquele momento;
____3 – Escreva estas regras em seu blog;
____4 – Indique cinco amigos.

Espanta Tubarões


____A música, além de fazer parte da trilha sonora do filme, tem uma mensagem muito positiva: Bob Marley - Three Little Birds. Não vou escolher trechos da música por achar ela toda linda. E as indicações? Fica por conta...

30 de maio de 2009


Visual novo, links novos e algumas outras mudanças por acontecer...




Indo assim:


____Enquanto o meu nobre amigo, Cazuza (e sempre citado), queria ter uma bomba, tenho vontade de ter uma nave espacial e tirar férias na lua longe de toda essa gente, essa bagunça e essas coisas com as quais sou obrigada a viver desde sempre. A menina que tem medo de ficar só, também traz no meio de suas amálgamas o desejo recorrente de solidão. Não aquela solidão dos poetas que cercado de outros se sentem solitários em suas míseras condições de existência, mas aquela solidão de verdadeiramente estar só.


____Às vezes sinto que estou narrando minha própria vida como em num filme póstumo, saudoso e triste. Estranhamente tenho notado o meu esforço atual para ser indesejável. É como se estivesse evitando ser uma coisa que nunca acreditei ser. Sinto que estou me transformando ou sendo transformada em uma coisa que ainda não sei o que é, mas que vem vindo em uma velocidade estrondosa. Sei que para fazer a vida andar pra frente, temos que deixar coisas pra trás e sei que comparar felicidade e estabilidade a um castelo de cartas é meio piegas, mas fazer o que? Quando parece que tenho tudo nas mãos, bate uma brisa leve e faz tudo desabar como se embaralhasse as cartas e abrisse abismos intermináveis e inexplicáveis.


____Vejo-me entrando em surto, em buraco escuro, em lugar onde já estive, porém, não sei bem onde é e nem o que fazer nele. Estou deveras confusa, irritada, arredia. Vou perdendo as pessoas que tenho ao meu lado e me sentindo feliz por isso. O que há de ruim então? Penso: “e quando a crise acabar? E quando quiser pessoas por perto? E quando sentir saudade?”. Não posso basear minha vida agora nesses “es", mas sem eles, vou construir novos (e piegas) castelinhos de cartas e esperar as próximas brisas bagunçarem tudo outra vez.


____Sinto saudades das minhas noites de Alice ao avesso em que eu podia entrar em um lugar, me transportar, me transformar, enlouquecer... Ver o mundo girar com mais força, usar o meu “veneno antimonotonia” e me sentir rainha até depois da meia noite, até o dia clarear, até os efeitos claros e químicos se acabarem. Tenho medo que minha vida comece a andar pra trás. Fico aqui tentando me controlar, tentando fazer de mim um cachorrinho treinado que sabe resistir a tudo. Acho que estou é tentando me transformar em algo menos humano, menos carnal, menos vivo e mais notável por carregar minhas “culpas estimação”. Minha ironia não é mais tão segura. Meu sarcasmo não esconde minhas máscaras... Sinto que estou definhando, acabando...



“Há uma responsabilidade diante de meus atos:
sou responsável pelo que faço, digo, decido...
Mas há também uma responsabilidade pela maneira como os faço:
sou responsável pelo modo como vivo, amo e sofro...” (Viktor Frankl)

25 de maio de 2009




Indo assim:

____Se a utopia do que digo e a concisão do que faço não sabem mais encontrar o eixo onde possam se encostar, as coisas simplesmente perdem o sentido e os humanos tornam-se além de meros mortais, efémeros e fugazes, algo que evapora no ar e se transporta pra o desejo recorrente e doentio de alguém que clama pelos ventos nas noites quentes e triste de um verão amaldiçoado por fadas deliberadamente malignas e outros serezinhos habitantes do mundo encantado e confuso que ronda tudo que parece que é.

____Não tenho ideais de felicidade. Sei nem se um dia parei pra sonhar com uma coisa perto da perfeição. Sempre gostei dos erros, dos desastres e de todas as coisas erradas que acontecem no meio dos dias felizes. Talvez precise dessas alfinetadas pra saber que um dia aquilo acaba; talvez seja, eu, apenas uma masoquista sentimental desequilibra ou querendo chamar atenção.

____Sei que não sou real e que a fantasia que criei de mim se materializou e tem forte eficácia em enganar muitos dos que circundam pelos lugares perdidos onde passo. E entre o tumulto de subir a ladeira e descer o morro, vou me deliciando com as coisas que encontro. Alegrando-me. Entristeço também, visto que, tudo anda acompanhado por um oposto seguidor pra complemento.

____E venham frases mágicas na cabeça: “e a vida vai seguindo assim. Não tenho quem tem dó de mim. Tô chegando ao fim”. Não quero carregar comigo essa dura culpa de chegar ao fim sem ter saído bem do começo. Não gosto de caminhos longos nem de pequenas trajetórias. Mas se tiver a chance de percorrer uma estrada mediana em um tempo pouco estendido, lá vou estar, rindo, gritando e pensando: “é... ainda tenho muito pra fazer antes de morrer”.




"A vida só pode ser entendida olhando-se para trás.
Mas só pode ser vivida olhando-se para frente." (Kierkegaard)

18 de maio de 2009





A máquina:

Levantar por ter acordado. Acordar por ter amanhecido. Amanhecer por ter tal noite passado.

Dormir por falta do que fazer. Fazer por ter aparecido. Aparecer por não poder ter sumido.

Medir por querer saber o tamanho. Tamanho por ter crescido. Crescido por ter mexido.

Competir por se achar bom. Bom por não conhecer melhor. Melhor por necessidade.

Pretender por segurança. Segurança por manter disfarces. Disfarce por ter medo.

Reclamar por adquirir mania. Mania por ter ganhado. Ganhar por ser diversão.

Passar a unha por ver coçar. Coçar por impaciência. Impaciência por desejo.

Causar por distração. Distrair por estar cansado. Cansar por fazer parte.

Produzir por pensamento. Pensar por ter nascido. Nascer por acaso.

Caminhar por ter que ir. Ir por poder ficar. Ficar por quebrar lei.

Ar por respirar. Respirar por precisar. Precisar por não saber.

Voltar por ter ido. Ir por vontade. Vontade por não evitar.

Tudo por qualquer coisa sem pelo menos fazer sentido...



"Eu jamais iria para a fogueira por uma opinião minha, afinal, não tenho certeza alguma. Porém, eu iria pelo direito de ter e mudar de opinião, quantas vezes eu quisesse." (Nietzsche)

14 de maio de 2009



De tudo que não sei.

____O relógio que fazia “blin-blon” e todas as outras coisas que produziam sons, tais como os passarinhos, o vento, a chuva, a torneia, nariz, boca, dedos. Todas se calaram de repente produzindo um silêncio ensurdecedor difícil de ser rompido, incoerente em ser quebrado, impossível de ser entendido.

____Os movimentos que produziam cor e cor que produzia contentamento... Tudo se foi. Murchou, furou, vazou, falhou. Lembro-me as vezes que tinha a vontade de perceber como a tal menina Clarisse entendia a vida. Hoje sei. Não entendia, porém, assim como eu tinha a pretensão de entender. Ultrapassar as linhas é perigoso, é sem volta, é negligente, é tentador. E de falar em tentação, lembro do ponto de onde parti. Parti tudo, parti com tudo, rompi com tudo.

____É feio ver como episódios têm a velha e má tendência a repetição. Sinto-me presa por ver a imposição de liberdade se aproximar. Queria ainda poder voltar, mas não sei dizer pra onde e não quero discursos velhos sobre coisas velhas rodeadas de pessoas velhas e amarguradas.

____Queria ter a sensação de olhar as coisas por cima. Quase como se pudesse voar... É, na verdade tudo que queria nesse exato momento (e em outros) era ter o bom poder de volatizar e sair por uma fenda imaginária que só as crianças podem ver...



"Tem sempre presente que a pele se enruga,
que o cabelo se torna branco,
que os dias se convertem em anos,
mas o mais importante mão muda:
tua força interior"
___________________________________Madre Tereza de Calcutá

9 de maio de 2009







Sobre o vento...

No enfileiramento: um passa, outro passa, um passo, outro passo.

Na correria: olha, devia, olha, corta a fila e cruza os braços.

Na procura: respira, prende, respira, transpira, despira, respira e não acha.

Intercruza os olhos. Intercruza os corpos. Descruza os braços.

Sente o ar, a magia, a melodia.

Intercruza as almas. Cruza os sentidos.

Não cruza nem intercruza os corpos.

Intercruza o difícil de romper.

A calma cruza com o universo e intercruza com o vento.

Prende-se ao vento que muda de lugar e intercruza com a árvore.

Move-se com (como) o vento.

Mas nunca, nunca se transforma em árvore que só dispõem de movimento se assim ambicionar tal vento...


"Poeta, poetinha vagabundo
Quem dera todo mundo
Fosse assim feito você
Que a vida não gosta de esperar
A vida é pra valer
A vida é pra levar
Vinicius, velho, saravá"

Samba Para Vinicius
(Toquinho e Chico Buarque)

5 de maio de 2009




____Sobre coisas que acontecem no dia-a-dia das pessoas e que elas nem ao menos notam:

____Os pequenos pêlos em movimentos circulares que circulam nas cerâmicas amareladas envoltas num alinhamento preto formado pelo tempo. Cima, baixo, lados e mais círculos.
____Ver a mistura de tonalidades se misturando em globos de neves agitados pela mão que esfrega; ver a formação da espuma branca que se mistura em outras cores menos puras que a sua; amarelo, preto, branco... Todas elas. Todas juntas sem ao mesmo manter sintonia.
____Desce o líquido transparente limpando as cores que unidas sem fazer questão se desfazem. Ai entra o dizer do pequeno grande Drummond “rolam num rio difícil e se transformam em desprezo”.


"Se tudo permace estável e em permanente renovação,
é porque o percurso do Sol nunca foi interrompido."

_______________________________Jabliquel.