30 de setembro de 2009


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♪♫Chico Buarque - A Ostra E O Vento♪♫

Foto: Prado, Bahia


         Ontem senti que perdia uma parte sua que por vezes tive vontade de perder, mas aquele sentimento me foi completamente desesperador: ver que não conseguia me lembrar de certa voz ao pé do ouvido e de tal gargalhada que alegrou muito dos meus dias; ver que não conseguia me lembrar do cheiro que sempre me fazia arrepiar e liberar os instintos animalescos; ver que a cor dos olhos, do rosto e do corpo desapareciam; ver que aquilo sem nome poderia se perder, e junto com essa perda, parte da minha história partiria numa viajem sem fim, foi de verdade desesperador. O desejo profundo e falso estava se realizando como em conto de bruxas sem fadas.

         Vi-me perdendo as tais asas impermeáveis, aquelas que suportam o sal do mar e o calor do sol. Vi que brigas com gênios literários ou musicais não faziam sentido, mas que ainda precisava saber todas as coisas que meu corpo abriga em qualquer noites quentes ou frias de qualquer estação do ano. Não por vaidade, nem por controle, na verdade nem sei pra que, mas preciso saber sobre esses abrigos, hoje eu precisei saber. Talvez tivesse a esperança de ainda ter as coisas perdidas escondidas em algum lugar... Talvez...

         Errado quem diz sobre decepções ensinar a viver. Decepção endurece e mascara um falso amadurecimento e em meio a esse endurecer, quis por vezes sem fim tirar aquele sentimento de tudo que fazia parte da minha vida, só então, quando tal desejo parecia se concretizar, pude perceber que aquele sentimento era vivo, era cheio, era Eu. Sim, era Eu. Tudo que me constituiu por anos afio estava ali, tinha nascido ou crescido nesse solo, desse adubo e não poderia ser perdido assim, como quem bate a poeira do tapete.

         Senti vontade de cantar uma música brilhante, cantar alto e quase gritando. Não tinha música na cabeça, não uma música com letra. Vazio, estava tudo muito vazio e estranho. Hoje não é um bom dia, mas amanhã será boa noite...



"Por você, eu faria isso mil vezes"
(O Caçador de Pipas - Personagem: Amir)

Por Laila Braga 14:23

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