28 de julho de 2007






Nada pra dizer hoje...

____Um dia frio. Uma noite longa. Uma vida curta. Lá estava ela no mesmo lugar. No mesmo lugar que freqüentara por meses. No mesmo lugar que não fora há meses. Após dias monótonos, tudo parece voltar ao normal e a noite, a noite iria ser longa.
____O corpo dela jazia em um chão úmido, ela estava sentada na guia de uma rua movimentada com alguns dos seus. A espera da hora. A espera da noite, que apesar de ser noite ainda era dia.
____Vestida em uma roupa velha, com meias rasgadas, a blusa que um dia fora preta, mas quando o escuro é escuro, o cinza vira preto, a cor vira negra e as pessoas viram... As pessoas viram.
____Ela estava lá à espera da dopamina, do torpor, do esquecimento, do regresso do passado sujo... Quem sabe uma tequila? O absinto já está muito caro por aqui. Uma tequila, um pouco de gim e mais um pouco de gim. Alguns goles de uma cerveja e mais uma cerveja. Gim com Tônica. Já não resta mais dinheiro para mais tequila.
____Dia impuro. Torpor leve. Noite longa. Noite pingante, chuvante, cansante, dopante. Confortavelmente anestesiada. O tempo acabou, mas o inverno ainda não chegou... Ela sabia que meia noite era hora de correr, meia noite, meio chovendo, meio desespero, meio que meio. A escada não falou comigo e ele não estava lá.
____A princípio o medo da pele alva e das lustrosas cabeças lá presente. Dentre os quais um olhava pra ela com cara de fome e ela não retribuía o olhar, apenas ficava no canto dela com cara de medo.
____Centro, madrugada, sem condução, sem condições e por mais uma vez, era tão tarde que chegava a ser cedo.
____O dinheiro era curto, a casa estava vazia e a noite prometia que iria ser longa. Quanto mais eu olho o cardápio, mais eu acredito que eu não tenho dinheiro. “Moço, quanto é o absinto nacional?” Parar pra recontar a grana? Não, não é possível... Eu não gosto de pinga, eu não quero pinga... O dinheiro é curto, a noite promete ser longa e vazia. “Vê-me um bombeirinho...” A media que o gelo derretia a bebida enfraquecia. Vou jogar o gelo fora.
____A lua mortal. As luzes amarelas e densas invadiam o ambiente escuro. Estava vazio, a bebida cor de gelatina de morango começava a subir e a mente dela a embaralhar, até que uma hora salvaram a noite e a música mostrou-se boa. O líquido vermelho começou a baixar e vários cigarros eram queimados entre os dedos dela, mas dessa vez ela os fumava. Aspirava à fumaça e a soltava no ar quente, abafado do lugar.
____Todas as trevas se transformaram em luz. O que antes era amargo ficou doce. O que antes era pinga virou água. O lugar fechou. Andar para andar. Andar para passar o tempo. Andar até andar. Na padaria não havia pão. Pedir pão velho ao padeiro. A grana curta, depois da noite longa. A felicidade do pão velho enganava o estomago.
____A noite acabou, quando o sol dava sinais de vida. Ah, saudade de quando a noite era só nossa. A noite também já foi minha. Hoje? Apenas um dia frio, uma noite longa, uma vida curta...

"Fique mais,
Que eu gostei de ter você,
Não vou mais querer ninguém,
Agora que sei quem me faz bem."

Por Laila Braga 03:17

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