24 de maio de 2010


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♪♫Hakuna Matata - O Rei Leão♪♫

Um Pião Por Aí


                                                                                                Continuando...



            Outra coisa estranha sobre a minha vida e da qual ainda não falei é sobre meu nome. Chamo-me Dudu. É nome mesmo, nada de apelido. Meu pai costuma dizer “pra que por um nome se ninguém o usa?” Até acho que ele tenha razão, mas imagine quando for grande e alguém me chamar “Senhor Dudu”, “Doutor Dudu”. Parece-me sem autoridade, mas sei lá... Qualquer coisa eu mudo e pronto. Por enquanto é legal e bonito pra uma criança.

            Tenho como todas as gentes “o meu cantinho da casa”. Gosto muito de me sentar no chão do banheiro e sentir o frio daquele lugar. Banheiros costumam ter uma temperatura muito peculiar, própria e destoante com o resto da casa. Sou fresco. Não sei se já falei sobre isso, mas se não falei, falo agora. Incomodo-me com cheiros, poeira, resquícios de sujeira, por isso só me sinto bem em bainheiro bem limpo, cheirosos, secos e gélidos. Não é qualquer lugar do banheiro que me agrada também. Tem que ter ângulo e iluminação que combinem e misturem entre si. Fico ali por horas parado e observando os sons. É, gosto de ser olhador de sons também. Todo som tem uma imagem e uma fantasia. Na verdade toda imagem tem sons, cheiros e molduras. Tudo se mistura dentro das criações de meninice. Acha que isso é coisa de amalucado? Não é não. Tente montar uma imagem sem pensar em seus sons e cheiros. Talvez até consiga, mas será uma imagem morta, feia e triste. Bom, pensando bem, nem isso. Até coisas mortas, feias e tristes tem lá os seus sons e cheiros indecifráveis...




E depois de um tempo...





            Hoje me vejo anos após e vejo o menino sumir. Lembro-me dele não mais como parte minha. Não sei se soube ser aquele menino. Nas linhas do velho português Pedro Sena-Lino, ouço explicações sem sentido dizendo: “deste lado da morte ninguém responde, (...) o dia não sabia se existia. Uma canção de barco abria feridas no tempo. As janelas diziam dezembro, dezembro, e a primavera tinha sido ontem por fora. É aqui o meu corpo, perguntei, mas deste lado da morte ninguém responde”. E assim mato o meu menino, as meninices e venho aderindo a todas as coisas começadas com o “A” que sempre odiei. Hoje sou velho, ranzinza, abestalhado, abobalhado e um tanto amalucado por esmagar o príncipe sonhador que um dia existiu em mim.






“Como se o que importasse não fosse a finalidade da viagem,
mas o processo em si
e as coisas que acontecem durante o trajeto.
Como se o asfalto de dia
e as luzes à noite
fossem o que preciso para me sentir à vontade,
em casa.
Como se o jeito das pessoas que sempre vejo pela primeira e última vez...”
(Du Santana – Da cor da sua paz)







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Por Laila Braga 18:13

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