9 de julho de 2010

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♪♫Desastre Mental - Cazuza♪♫

Foto: do celular em um Bar por aí


           Colou!

           Mais do que cola instantânea;

           Mais do que refrão de música ruim;

           Muito mais do que nuvem no céu

           E areia de praia na palma da mão.

           Sem falar de cheiros, gostos ou cores.

           Falando ainda de flash reluzentes,

           Chegou ao ponto de dizê-los capaz...

           Capaz de fazer-se enxergar em meio à claridade

           Em meio a dia profano de guerra interior

           Em guerras tão distantes quanto o pensamento pode chegar.

           E pelo que vi os céus sinalizarem naqueles dias, vi que gostei.

           O gosto das coisas perigosas é impagável.

           Mas jamais queda de avião; já diria o meu amigo Cazuza.


                                                                                  Colou!

                                             Mais do que cola instantânea,

                         Refrão de música ruim,

                                        Nuvem no céu

                                                       E areia de praia na palma da mão...





"Se você me encontrar
Rodando pela casa
Fumando filtro
Roendo a mão
É que eu não tô sonhando
Eu tenho um plano
Que eu não sei achar"
(Cazuza - Por Aí)

24 de maio de 2010

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♪♫Hakuna Matata - O Rei Leão♪♫

Um Pião Por Aí


                                                                                                Continuando...



            Outra coisa estranha sobre a minha vida e da qual ainda não falei é sobre meu nome. Chamo-me Dudu. É nome mesmo, nada de apelido. Meu pai costuma dizer “pra que por um nome se ninguém o usa?” Até acho que ele tenha razão, mas imagine quando for grande e alguém me chamar “Senhor Dudu”, “Doutor Dudu”. Parece-me sem autoridade, mas sei lá... Qualquer coisa eu mudo e pronto. Por enquanto é legal e bonito pra uma criança.

            Tenho como todas as gentes “o meu cantinho da casa”. Gosto muito de me sentar no chão do banheiro e sentir o frio daquele lugar. Banheiros costumam ter uma temperatura muito peculiar, própria e destoante com o resto da casa. Sou fresco. Não sei se já falei sobre isso, mas se não falei, falo agora. Incomodo-me com cheiros, poeira, resquícios de sujeira, por isso só me sinto bem em bainheiro bem limpo, cheirosos, secos e gélidos. Não é qualquer lugar do banheiro que me agrada também. Tem que ter ângulo e iluminação que combinem e misturem entre si. Fico ali por horas parado e observando os sons. É, gosto de ser olhador de sons também. Todo som tem uma imagem e uma fantasia. Na verdade toda imagem tem sons, cheiros e molduras. Tudo se mistura dentro das criações de meninice. Acha que isso é coisa de amalucado? Não é não. Tente montar uma imagem sem pensar em seus sons e cheiros. Talvez até consiga, mas será uma imagem morta, feia e triste. Bom, pensando bem, nem isso. Até coisas mortas, feias e tristes tem lá os seus sons e cheiros indecifráveis...




E depois de um tempo...





            Hoje me vejo anos após e vejo o menino sumir. Lembro-me dele não mais como parte minha. Não sei se soube ser aquele menino. Nas linhas do velho português Pedro Sena-Lino, ouço explicações sem sentido dizendo: “deste lado da morte ninguém responde, (...) o dia não sabia se existia. Uma canção de barco abria feridas no tempo. As janelas diziam dezembro, dezembro, e a primavera tinha sido ontem por fora. É aqui o meu corpo, perguntei, mas deste lado da morte ninguém responde”. E assim mato o meu menino, as meninices e venho aderindo a todas as coisas começadas com o “A” que sempre odiei. Hoje sou velho, ranzinza, abestalhado, abobalhado e um tanto amalucado por esmagar o príncipe sonhador que um dia existiu em mim.






“Como se o que importasse não fosse a finalidade da viagem,
mas o processo em si
e as coisas que acontecem durante o trajeto.
Como se o asfalto de dia
e as luzes à noite
fossem o que preciso para me sentir à vontade,
em casa.
Como se o jeito das pessoas que sempre vejo pela primeira e última vez...”
(Du Santana – Da cor da sua paz)







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15 de abril de 2010

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♪♫Ivan Parente - Saudade♪♫

Foto: Prado, Bahia


                                                                                                Continuando...

            Sei lá também por que as pessoas usam tantas palavras sem significado. Eu fico ali, olhando, ouvindo e pegando as palavras e repetindo. Em tempos atrás isso começou me assustar. Tinha a mania atoleimada de falar um tanto de coisas sem nem saber o que eu falava, mas não é que é que as pessoas me entendiam? Sempre achei adulto meio fingido. Já não bastava a família desproporcional, ainda tinha as visitas que chegavam e se aprochegavam (acho que acabo de criar essa palavra, sei não) parecendo não querer ir mais embora.

            As visitas sim eram engraçadas. Divertia-me com elas. Ficava eu cá a tentar fazer parte da moldura, até certa hora em que uns e outros gritavam “menino, vem aqui falar com as visitas”. E lá ia eu. Todo empinadinho. Carregava essa coisa de postura comigo. Era só estratégia pra desviar atenção. Sempre acreditei ter a cabeça pequena demais pro tamanho dos olhos, ai me empinava e ficava todo mundo olhando pra o jeito estranho que eu caminhava e esqueciam os olhos da cabeça. Pois bem, lá ia eu todo empinado falar com as visitas. Juntava um amontoado e palavras, principalmente as que começavam com “a”, e falava uns dois minutos seguidos com os estranhos. Volta e meio ouvia um abobalhado dizer “quando esse menino crescer vai ser um Padre ou um Juiz”. Demorei a entender o que padres e juízes traziam em comum. Sei nem se entendi mesmo, mas me dei à explicação interna de que é por que eles usam aqueles vestidos pretos esquisitos por cima da roupa. Padres eu já vi que usam. Freqüentava algumas vezes uma igrejinha pequena e velha que tinha perto de casa, e lá tinha um desses padres que fala devagarzinho e usa essas roupas mesmo quando faz um calor dos diabos. Juiz eu nunca vi de perto, só via em uns episódios de Jonny Quest que passavam na televisão gigante e de imagem ruim da casa do meu avô.

            Outro dia eu, com aqueles tais botões cerebrais, dos quais, já havia falado, me peguei pensando um dia em qual seria o motivo para as máscaras dos bailes de carnaval (e outros que ficam imitando esses). As pessoas se travestem de máscaras pra fazer coisas que não fariam sem elas. Esse mundo é mesmo complicado de entender. Tenho que ficar repetindo o tempo todo “abestalhados, abestalhados e abestalhados”. Todo mundo sabe quem fica atrás da máscara, mas a culpa é do personagem e não de quem dá vida a ele. Mas vou lá eu na minha meninice fazer coisa parecida pra ver o que me acontece. Adultos têm dessas coisas de descontar tudo nas crianças, e quando a criança sou eu então... Já viu num é?!

            Fico eu aqui falando das minhas criações de menino vivendo em sua meninice, e acabo por esquecer as coisas de menino em suas adultices (essa palavra invento agora). Na minha adultice tenho que freqüentar escola e arrumar o quarto. Por vezes me deparo com pessoas dizendo que sou novo pra freqüentar escola, mas verdade é que me acho novo pra arrumar o quarto. Poxa, tenho que por coisas no lugar que são delas e se quer sei por quê. Não gosto de não saber das coisas que faço. Isso é besteira de adulto. Na escola eu sei o que faço: nada de aprender ler, escrever ou essas coisas normais. Vou pra lá ver. Isso mesmo! Vou pra lá só pra ver coisas que não vejo fora de lá. Sempre saiu muito de casa, mas o que vejo em todo lugar é diferente. Já disse que sou um olhador, então tenho que olhar.

            Às vezes me permito dividir imaginação e mundos com outras crianças, mas ainda tenho uma coisa em mim que diz que crianças são entediantes. Elas são melhores que adultos porque tenho pra mim que enquanto crianças são entediantes, adultos são somente crianças burras. Sou nenhum gênio. Na verdade acho que sou chato mesmo. Quando mais novo achava que tinha caído de alguma nave espacial por engano. Hoje acredito que se tiver caído, não foi por engano. Alguém deve ter me jogado por eu ser chato, mas tenho minhas dúvidas sobre essa coisa de ter vindo de outro planeta. Por vezes penso que sou só uma criança comum que é igualmente diferente como tudo mundo. Tenho mania de superioridade e não me misturo muito. Disso já sei, e venho tentando tomar cuidado.

                                                                                                Continua...


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Tentando me render a algumas "tecnologias":

5 de abril de 2010

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♪♫PerlaSiDo - Sympathique♪♫




            Sentado ali via aquele pequeno aviãozinho se movimentar nos céus manchados da cidade grande. Bolhas e pequenos rastros. Tudo estava ali parado disjunto e sem qualquer significação. E ali, sentado a olhar.

            Olhar sempre me apareceu como estratégia. Tinha inveja dos autistas. Confesso-lhes que ainda a tenho em outras proporções. Sempre que podia, exercitava o meu talento nato de olhar e me tornar alheio ao mundo. Mesquinhez que as pessoas têm de ser feliz. Mania atestada e abestalhada de querer coisas só pra poder querer mais depois. Eu não. Ali enquanto olhava com meus olhos de meninices – nunca entendi bem esse termo, mas meu avô sempre dizia: “pare de meninice” – e me tornava ausente, matutava com meus botões, não aqueles botões de ligar e desligar as coisas, falo daqueles botões que a gente tem dentro da cabeça, e que liga alguma coisa do cérebro e desliga sozinho quando a gente dorme, sabe como é? Pois sim, estava eu com meus botõezinhos cerebrais tentando entender porque se perde tanto tempo reproduzindo alguma coisa.

            Sempre quando eu parava pra brincar com minhas coisas imaginárias, tinha alguém pra dizer “esse menino vai ficando maluco, coisa besta de enxergar trens que não existem”. Nem sabem eles que tenho medo de trem. Nunca inventei um trem. Inventava outras coisas que já existiam. Inventava dentro da minha cabeça e quando eu tirava de lá ficava lindo, eram sempre perfeitas as minhas invenções. Parecia maluquice de criança, mas não era não. Eu enxergava, sentia e dava vida a todas as minhas invenções. E elas eram minhas, só minhas. Nunca gostei muito dessas coisas de compartilhar.

            Quando eu inventava coisas que já existiam, as pessoas achavam maluquice, mas quando as pessoas perdiam seu tempo inventando coisas que já existiam, era coisa de gênio. Avião... Rum... Jeitinho mais feio de imaginar um pássaro grande. E se eu inventar um avião? Nunca que ele vai ser feio e malfeito daquele jeito. Não invento aviões não, prefiro inventar outras coisas. Certa vez inventei um barquinho. Chamo de barquinho por que era barquinho mesmo. Era cara de barquinho de papel que se parece com chapéu de soldadinho de chumbo, mas inventei-o pra me caber dentro e andar devagar sobre as coisas. Na de avião: nem de papel, nem de nada. Até os de papel são rápidos demais, aí não dava pra olhar as coisas direito. E como sou um olhador nato, não gosto de inventar coisas que não me deixem olhar direito. Avião é pra gente grande, não pra gente alheia. Talvez eu tenha medo de avião, mas não é medo de cair não. É medo de coisa rápida mesmo. Igual trem. Se a gente se põe a correr, tem sempre alguém que vem atrás pra entender por que, mas se você fica quietinho? Ninguém mexe. Não mexe mesmo. Gente quietinha assusta outras gentes. Eu sei como que é porque sempre fiz isso.

            Sempre tive uma família grande daquelas de encher ônibus, sabe? Eu era uma das crianças mais novas e mais mirradas – outra palavra que nunca entendi pra que servia, mas sucessivamente alguém repetia no meu ouvido – desse amontoado todo de gentes, e como tinha medo daquelas histórias de filmes que os pequenos sempre apanhavam dos gorduchos trogloditas, nunca fazia parte das coisas que se tem que fazer parte nas estirpes. Costumava dar gargalhadas internas quando alguém falava “não mexe com esse menino, por que ele é meio amalucado”. Gostava das minhas coisas internas. Só eu poderia me deliciar e estimar minhas coisas internas. Nunca neguei o meu egoísmo mesmo. Mas nem era tanto egoísmo, pensava as vezes que era só introversão ou medo que as minhas bobices tornassem realmente bobas e acabassem por ser mandadas embora. Não saberia viver minha meninice sem as bobices internas de amalucado.

                                                                                                Continua...

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Tentando me render a algumas "tecnologias":

E vejamos o que acontece =D

7 de janeiro de 2010

Foto: de algum lugar da Internet


            No
            Remoto
            Do controle
            Remoto
            Penso em tempo não
            Remoto


                                                               Que
                                                               Remete (a um)
                                                               Que
                                                               Mente (a outro)
                                                               Que
                                                               Sente (a tudo)


                                          O
                                          Presente
                                          O
                                          Ardente
                                          O
                                          Passado


                                                                                 Não
                                                                                 Parado
                                                                                 Não
                                                                                 Adaptado
                                                                                 Não
                                                                                 Renovado


                                                    E
                                                    No meio
                                                    E
                                                    No fim
                                                    E
                                                    No começo...



                                                    Apenas as ordens são alteradas
                                      Nos descontroles
                        De qualquer lugar que pare!




"A fábrica de sonhos acabou
Era um bom bom-bocado sem licor
Milagre rima com vinagre (sim senhô)
Guarda-sol se abre ao sol
Ma' nunca foi frô"
(Gonzaguinha)



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A dica musical da vez é Edu Luz... Acredito valer a pena conferir...